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21 abr 2011

Novicia

Víctor Heredia é um músico argentino destacável pelo compromisso social de suas letras. Foi membro do partido comunista até 1978. Foi censurado e sua irmã Cristina foi seqüestrada com seu marido continuando desaparecida até hoje.
Este autor colabora ativamente com organizações como Mães da Praça de Maio, Avós da Praça de Maio e agrupações indígenas como fica evidenciado no disco Taki Ongoy contra a aculturação espanhola, lembrando a luta dos índios por sua liberdade.
Gravou discos com artistas como Joan Manuel Serrat, Mercedes Sosa, León Gieco, Milton Nascimento, Silvio Rodriguez, Pablo Milanés, Chico Buarque e outros.
Deixo com vocês as duas versoes: com Chico Buarque, do disco "Tiernamente Amigos" e com Mercedes Sosa do disco "Cantora"

Novicia
Victor Herdia - Chico Buarque
Victor Heredia - Mercedes Sosa

Atravessou a linha prematura da sua infância
Vestiu esse vestidinho cor-de-ontem.
E foi como uma oração
De outonos sobre seus pés
E ir oferecendo a vida, justo na esquina,
Tremendo ausente sua nudez.

Seus leves ossos em cruz
Balançando-a em suave luz
O cara que a acaricia
E ela, novicia, chorando-se.

Ai, onde está seu amor,
Seu princepezinho azul?
Que escura noite desencadeia
Luas baratas sobre seu enxoval

Bebeu sua taça de esquecimento e saiu outra vez
Quatorze sonhos afundados afogando-se
A escolta da solidão
Escuro cão sem fé
Latindo a essa lua morta
Que a persegue junto à sombra da sua infância

Seus leves ossos em cruz
Balançando-a em suave luz
O cara que a acaricia
E ela, novicia, chorando-se.

Ai, onde está seu amor,
Seu princepezinho azul?
Que escura noite desencadeia
Luas baratas sobre seu enxoval

Atravessou a linha prematura da sua infância
Vestiu esse vestidinho cor-de-ontem.
Bebeu sua taça de esquecimento e saiu outra vez
Quatorze sonhos afundados afogando-se



6 abr 2011

Canción para un niño en la calle

Mercedes Sosa com Calle 13
Armando Tejada Gómez - Ángel Ritro)

O último disco de Mercedes Sosa foi um CD duplo, gravado entre junho de 2008 e março de 2009, de duetos com músicos de diferentes estilos e épocas. Uma das músicas mais surpreendentes do disco é a versão "Hay un niño en la calle" com Calle 13.
Calle 13, para quem ainda nao conhece, é um grupo formado por dois irmãos de Puerto Rico que mistura ritmos populares como tango, cumbia colombiana com estilos de música urbana. Em todos eles, Calle 13 imprime uma crítica social frontal e incisiva. Em seu último lançamento “Los de atrás vienen conmigo” (os de trás vêm comigo) foram acompanhados de grandes figuras da música popular latina: Rubén Blades, Café Tacvba e nesta música que trazemos hoje, por Mercedes Sosa.



Canção para uma criança na rua:






A esta hora exatamente,
Há uma criança na rua
Há uma criança na rua!

É honra dos homens protegerem o que cresce,
Cuidar que não exista infância dispersa pelas ruas,
Evitar que naufrague seu coração de barco,
Sua incrível aventura de pão e chocolate.
Pondo-lhes uma estrela no lugar da fome.
De outro modo é inútil, de outro modo é absurdo
Ensaiar na terra a alegria e o canto,
Porque de nada vale se houver uma criança na rua.

Todos os tóxicos do meu país
Entram pelo meu nariz
Lavo carros, limpo sapatos
Cheiro cola e também cocaína
Roubo carteiras, mas sou gente boa
Sou um sorriso sem dentes
Chuva sem teto, unha com terra
Sou o que sobrou da guerra
Um estômago vazio
Sou uma ferida no joelho que se cura com o frio
O melhor guia turístico do subúrbio
Por três pesos te passeio pela capital
Não preciso de visto para voar pelos arredores
Porque eu brinco com aviões de papel
Arroz com pedra, lama com vinho
E o que me faltar... eu imagino.

Não deve andar o mundo com o amor descalço
Hasteando um jornal como uma asa na mão
Subindo nos trens, trocando risadas,
Batendo no peito com uma asa cansada.
Não deve andar a vida, recém nascida, a preço,
A infância arriscada a um estreito lucro
Porque então as mãos são inúteis fardos
E o coração, apenas, um palavrão.

Quando cai a noite durmo acordado
Um olho fechado e o outro aberto
Na dúvida de que os tigres me cuspam uma bala
Minha vida é como um circo, mas sem palhaços
Vou caminhando pela vala
Fazendo malabarismos com cinco laranjas
Pedindo dinheiro a todos os que eu puder
Numa bicicleta de uma roda.
Sou oxigênio para este continente
Sou o que descuidou o Presidente.
Não te assustes se eu tenho mal cheiro
Ou se me vês sem camisa
Com os mamilos ao vento
Sou um elemento mais da paisagem.
Os resíduos da rua são minha camuflagem
Como algo que existe que parece mentira
Algo sem vida, mas que respira.


Pobre daquele que esqueceu que há uma crianca na rua,
Que há milhões de crianças que moram na rua
E multidão de crianças que crescem na rua.
Eu os vejo apertando seu coração pequeno,
Olhando-nos a todos com fábula nos olhos.
Um relâmpago interrompido lhes atravessa o olhar,
Porque ninguém protege essa vida que cresce
E o amor perdeu-se, como uma criança na rua.

A esta hora exatamente,
Há uma criança na rua
Há uma criança na rua!

Clique aqui para o website de Mercedes Sosa
Clique aqui  para o website de Calle 13




14 oct 2009

Mercedes Sosa II

 



Continuando a homenagear a Negra, sempre à busca de novas formas de arte. Sempre disposta a reconhecer novos artistas, e a recriar versões de músicas engajadas.





Si Se Calla El Cantor
Horacio Guarany

Se o cantor se calar

Se o cantor se calar, se calará a vida
Porque a vida, a vida é inteira uma canção
Se o cantor se calar, morre de espanto
A esperança, a luz e a alegria
Se o cantor se calar ficarão sozinhos
Os humildes pardais dos jornais,
Os operários do porto se persignam
Quem haverá de lutar por seu salário

RECITADO
O que há de ser da vida se o que canta
Não levanta a sua voz nas tribunas
Pelo que sofre, por quem não há
nenhuma razão que o condene a andar sem coberta

Se o cantor se calar morre a rosa
De que serve a rosa sem a canção.
Deve a canção ser luz sobre os campos
Iluminando sempre os de baixo.
Que não cale o cantor porque o silêncio
Covarde encobre a maldade que oprime,
Não sabem os cantores inclinados
Não calarão jamais de frente ao crime

RECITADO
Que se levantem todas as bandeiras
Quando o cantor se obstine com seu grito
Que mil violões dessangrem na noite
Uma imortal canção ao infinito

Se o cantor se calar... cala a vida.





Soy Pan, Soy Paz, Soy Más
Piero
http://www.youtube.com/watch?v=ikUdtMkZkCQ
Sou Pao, Sou Paz, Sou Mais 


Sou água, praia, céu, casa, planta,
Sou mar, Atlântico, vento e América,
Sou um monte de coisas santas
Misturadas com coisas humanas
Como te explico... coisas mundanas.

Fui criança, berço, peito, teto, coberta,
Mais medo, cuca, grito, pranto, raça,
Depois misturaram as palavras
Ou se escapavam os olhares
Algo aconteceu... não entendi nada.

Vamos, diga-me, conte-me

Tudo o que está te acontecendo agora,
Porque senão quando estiver a alma sozinha chora
Temos que tirar tudo pra fora, como a primavera
Ninguém quer que por dentro algo morra
Falar nos olhando nos olhos
Tirar o que for possível pra fora
Para que dentro nasçam coisas novas.

Sou pão, sou paz, sou mais, sou o que está por aqui
Não quero mais do que me puderes dar,
Hoje te é dado, hoje te é tirado
Igual que com a margarida... igual ao mar,
Igual à vida, à vida, à vida, à vida...

Vamos, diga-me, conte-me
Tudo o que está te acontecendo agora,
Porque senão quando estiver a alma sozinha chora
Há que tirar tudo pra fora, como a primavera
Ninguém quer que por dentro algo morra
Falar nos olhando nos olhos
Tirar o que for possível pra fora
Para que dentro nasçam coisas novas.


Todavía Cantamos
Víctor Heredia
 http://www.youtube.com/watch?v=LaWkEZHzukE
Ainda Cantamos

Nós ainda cantamos, ainda pedimos
Ainda sonhamos, ainda esperamos.
Apesar dos golpes que nos deu na nossa vida,
O engenho do ódio, desterrando ao esquecimento
Os nossos seres queridos.

Ainda cantamos, ainda pedimos,
Ainda sonhamos, ainda esperamos.
Que nos digam onde esconderam as flores
Que perfumaram as ruas perseguindo um destino.
Onde, onde foram.

Ainda cantamos, ainda pedimos,
Ainda sonhamos, ainda esperamos.
Que nos dêem a esperança de saber que é possível
Que o jardim se ilumine com os risos e o canto
Dos que amamos tanto.

Ainda cantamos, ainda pedimos,
Ainda sonhamos, ainda esperamos.
Por um dia diferente sem instâncias nem jejuns
Sem temor e sem pranto e por que voltem ao ninho
Nossos seres queridos.

Ainda cantamos, ainda pedimos
Ainda sonhamos, ainda... esperamos.


Todo Cambia
Julio Numhauser


Tudo muda

Muda o superficial
Muda também o profundo
Muda o modo de pensar
Muda tudo neste mundo
Muda o clima com os anos
Muda o pastor seu rebanho
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho


Muda o mais fino brilhante
De mão em mão o seu brilho
Muda o ninho o passarinho
Muda o sentir o amante

Muda o rumo o caminhante
Mesmo que lhe cause feridas
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

Muda, tudo muda
Muda, tudo muda
Muda, tudo muda
Muda, tudo muda

Muda o sol em sua carreira
Quando a noite subsiste
Muda a planta e se veste
De verde na primavera

Muda a pele a fera
Muda o cabelo o ancião
E assim como tudo muda
Que eu mude não é estranho

Mas não muda meu amor
Por mais longe que eu esteja
Nem a lembrança nem a dor
Do meu povo e minha gente

O que mudou ontem
Terá que mudar amanha
Assim como mudo eu
Nesta terra longínqua

Muda, tudo muda
Muda, tudo muda
Muda, tudo muda
Muda, tudo muda

Mas não muda o meu amor...


11 oct 2009

MERCEDES SOSA I

Nestes dias sofremos uma grande perda na música da América Latina. Morreu Mercedes Sosa, uma lutadora do povo, uma voz saída da terra. Pego emprestadas as palavras do músico Fito Paez para falar sobre a Negra...


“O legado de Mercedes Sosa é de vital importância nestas horas da Argentina, uma lição moral plena de luz.
Com sutileza e precisão desenvolveu uma obra que marcará para sempre a história da música popular deste continente.
Seu desejo de liberdade foi exposto em cada recanto do longo caminho que forjou através de muitas décadas em diferentes discos e cenários do mundo. Desde Matus até Violeta Parra, desde Ramírez até Atahualpa Yupanqui, desde Teresa Parodi até Djavan, desde Peteco Carabajal até Spinetta, desde Félix Luna até Charly García, ela inteira foi, é, uma aula do que deveria ser uma nação. Uma mulher integradora de essências, uma perfumista da música na busca, não do aroma perfeito, mas do aroma de cada lugar.
Sanmartiniana, sem preconceitos por natureza, conseguiu o que nenhum dirigente pôde pôr em funcionamento na história desta terra. Escutou todos, vinculou-se com todos, cantou com todos, nos emocionou a todos. Escutar, vincular, cantar, emocionar. Verbos pouco usuais afastados da vida política. Ela como ninguém, nos dá uma idéia do significado de nação que nos carrega de responsabilidade e obriga a pensar na infelicidade de um país que não pode se realizar em plenitude.
No entanto, sua obra sim consegue. A bravura na escolha dos seus repertórios; os riscos artísticos que assume; o rigor na hora do canto e a clareza de sua voz de veludo; a ausência de medos à tecnologia de mercado; sua segurança temerária na hora da gravação; seus olhos fechados quando interpretava e sua boca de ouro à frente de seu belíssimo cabelo preto sob esse nariz de águia, essa é a sua imagem. Senhora e dona do lugar. Rainha da canção.
Será impossível pensar a Argentina sem suas fundamentais versões de Leguizamón y Castilla, Guarany, a tríade modernista de “La Misa Criolla”, Mulheres Argentinas e a “Cantata Sudamericana”, a volta à democracia do 83 com Gieco, Tarragó Ros, Heredia y García, sua permanente curiosidade pelos autores novos (a quem escutava incansavelmente em seu toca-fitas primeiro, depois no walkman e logo no seu iPod), sua admiração pelo Chango Farías Gomez e Chacho Muller, sua falta absoluta de rivalidade com as demais cantoras do bairro, a quem amava, sua vontade de se abstrair de tudo e sua curiosidade inesgotável sobre o que acontecia no resto do mundo... enfim, sem sua loucura abrangedora e que nos contém.
Morreu a senhora Mercedes Sosa. “A Pachamama”¹a chamavam. Era uma grande verdade, porque protegia e fornecia. Mãe terra e divindade.
Seu olhar, sua presença, nos condena ao encontro e este é um imenso desafio nesta, a hora mais difícil de nossa tremenda perda. Parecem palavras grandes, e são, mas maior ainda será construir um lugar tomando-a como exemplo. Tijolo por tijolo e todos os dias com amor se constrói uma casa. Essa é sua herança. Jamais aceitarei que o lugar de seu velório se chame o dos Passos Perdidos. Em todo caso, será o dos “Passos Ganhados”.

¹ Pachamama: da língua aymara e quechua “pacha”: tierra e “mama”: mãe. Quer dizer: Mãe Terra. É a grande divinidade entre os povos indígenas dos Andes Centrais da América do Sul




Como Un Pájaro Libre
A. Gleijer /D. Reches

http://www.divshare.com/download/8855441-748

Feito um pássaro livre

Feito um pássaro livre, de livre vôo,
Feito um pássaro livre, assim te amo.
9 meses te tive crescendo dentro

E ainda continuas crescendo e descobrindo
Descobrindo e aprendendo a ser um homem
Não há nada na vida que não te surpreenda

Como um pássaro livre...


Cada minuto seu eu vivo e morro
Quando não estás, meu filho, como te espero
Pois o medo, uma larva, me rói e me carcome
Nem bem abro um jornal e busco seu nome

Como um pássaro livre

Morro todos os dias, mas te digo
Não há que andar atrás da vida como um mendigo
O mundo está em ti mesmo, deves mudá-lo
Cada vez o caminho é menos longo

Como um pássaro livre





Cuando Tenga La Tierra
D. Toro / A. Petrocelli



Quando eu Tiver a Terra

Quando eu tiver a terra, semearei as palavras
Que meu pai Martin Fierro pôs ao vento.
Quando eu tenha a terra, tê-la-ão os que lutam
Os professores, os machadeiros, os operários.

Quando eu tiver a terra
Eu te juro semente, que a vida
Será um doce cacho e no mar das uvas
Nosso vinho, cantarei, cantarei.

Quando eu tiver a terra, dar-lhe-ei às estrelas
Astronautas de trigais, lua nova,
Quando eu tenha a terra formarei com os grilos
Uma orquestra onde cantem os que pensam.

Quando eu tiver a terra
Eu te juro semente, que a vida
Será um doce cacho e no mar das uvas
Nosso vinho, cantarei, cantarei.


RECITADO:

Camponês, quando eu tiver a terra
Acontecerá no mundo o coração do meu mundo
Desde atrás de todo o esquecimento secarei com minhas lágrimas
Todo o horror da piedade e por fim te verei
Camponês, camponês, camponês, camponês,
Dono de olhar a noite em que nos deitamos para fazer os filhos
Camponês, quando eu tenha a terra
Por-te-ei a lua no bolso e sairei a passear
Com as árvores e o silencia
E os homens e as mulheres comigo

Cantarei, cantarei, cantarei, cantarei.




Entre a mi Pago sin Golpear
Pablo Raúl Trullenque - Carlos Carabajal

http://www.divshare.com/download/8861080-de5

Entrei na minha terra sem bater

Foi muita a minha tristeza
Andando longe da minha terra
Tanto correr
Pra chegar a lugar nenhum
E estava onde nasci
O que eu procurava por aí.

É ouro a amizade
Que não se compra nem vende
Só se da

Quando no peito se sente
Não é algo que há de se usar
Só quando seja útil.

Assim é como se entregam
Na amizade meus conterrâneos
Suas mãos são
Pão, dados, e chimarrão servido
E a flor da humildade
Costuma seu rancho perfumar

A vida me foi emprestada
E tenho que devolvê-la
Quando o criador
Chamar-me para a entrega
Que meus ossos, pele e sal
Fertilizem meu solo natal.

A lua é um torrão
que ilumina com luz emprestada
Só ao cantor
Que cante quadras da alma
Explode-lhe o coração
O sol que sobe por sua voz

Cantor para cantar
Se nada dizem teus versos,
Ai, para que
Vais calar o silêncio
Se o silêncio é um cantor
Cheio de duendes na voz.

Minha gente é um cantor
Que canta a “chacarera”
Não há de cantar
O que por dentro não sinta
Quando o queira escutar
Entre à minha terra sem bater.

A vida me foi emprestada
E tenho que devolvê-la
Quando o criador
Chamar-me para a entrega
Que meus ossos, pele e sal
Fertilizem meu solo natal.




Guitarra Dímelo Tú
Atahualpa Yupanqui


Violão, diga-me você.

Se eu pergunto ao mundo
O mundo há de me enganar
Se eu pergunto ao mundo
O mundo há de me enganar
Cada um acredita que não muda
E que quem muda são os outros.


E passo as madrugadas
Buscando um raio de luz
Porque a noite é tão longa
Violão, diga-me você

Vira pura mentira
O que foi doce verdade
Vira crua mentira
O que foi doce verdade
E até a terra fecunda
Transforma-se em areal

E passo as madrugadas
Buscando um raio de luz
Porque a noite é tão longa
Violão, diga-me você

Os homens são deuses mortos
De um templo já derrubado
Os homens são deuses mortos
De um templo já derrubado
Nem seus sonhos se salvaram
Só uma sombra que vai

E passo as madrugadas
Buscando um raio de luz
Porque a noite é tão longa
Violão, diga-me você





Honrar La Vida
Eladia Blazquez






Honrar a vida

Não! Permanecer e transcorrer
Não é perdurar, não é existir
Nem honrar a vida!
Há tantas maneiras de não ser
Tanta consciência sem saber
Adormecida...
Merecer a vida não é calar e consentir
Tantas injustiças repetidas...
É uma virtude, é dignidade
E é a atitude de identidade
Mais definida!

Isso de durar e transcorrer
Não nos dá direito a presumir
Porque não é o mesmo que viver,
Honrar a vida!

Não! Permanecer e transcorrer
Não sempre quer sugerir
Honrar a vida!
Há tanta pequena vaidade
Em nossa boba humanidade
Cegada.
Merecer a vida é erguer-se vertical
Além do mal, das caídas...
É igual que dar à verdade
E à nossa própria liberdade
As boas-vindas!
Isso de durar e transcorrer
Não dos dá direito a presumir
Porque não é o mesmo que viver,
Honrar a vida!






Numa entrevista concedida à revista “La bicicleta” em 1984, Silvio Rodriguez veio esclarecer tudo ao ser perguntado sobre o significado de “La Maza”:

- “La maza” é um pouco a razão de ser artista, de seu compromisso, que não se deixa seduzir pelos artifícios e superficialidades que costumam acompanhar algumas manifestações cênicas...

- A pedreira é o povo?

- A pedreira é de onde se extraem os cantos, o maço é com que se golpeia. Se não houvesse uma pedreira de onde extrair um produto, algo, para que serviria o maço?

- Quer dizer que extrai seu canto das experiências do povo ou senão, poderia ser que o maço é o que molda o mármore, isto é: que o cantor molda a consciência do povo...

- Não tinha pensado nisso. É ao contrário, aquilo que você disse primeiro.


La Maza
Silvio Rodríguez




O Maço

Se eu não acreditasse na loucura
Da garganta do rouxinol,
Se não acreditasse que no morro
Esconde-se o gorjeio e o pavor...

Se eu não acreditasse na balança,
Na razão do equilíbrio,
Se não acreditasse no delírio

Se não acreditasse na esperança...

Se não acreditasse no que adquiro,
Se não acreditasse no meu caminho,
Se não acreditasse no meu som,
Se não acreditasse no meu silêncio...

O que seria? O que seria do maço sem pedreira?
Uma massa disforme feita de cordas e tendões,
Uma mistura de carne com madeira
Um instrumento sem melhores pretensões
Que pequenas luzes armadas no cenário...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria o maço sem pedreira?
Um testa-de-ferro do traidor dos aplausos
Um servidor do passado em taça nova,
Um eternizador de deuses do ocaso
Júbilo fervido com panos e lantejoulas...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria do maço sem pedreira?

Se eu não acreditasse no mais duro
Se não acreditasse no desejo,
Se não acreditasse no que creio,
Se não acreditasse em algo puro...

Se não acreditasse em cada ferida,
Se não acreditasse no que ronde,
Se não acreditasse no que esconde
Fazer-se irmão da vida...

Se não acreditasse em quem me escuta,
Se não acreditasse no que dói,
Se não acreditasse no que reste,
Se não acreditasse no que luta...

O que seria? O que seria o maço sem pedreira?
Uma massa disforme feita de cordas e tendões,
Uma mistura de carne com madeira
Um instrumento sem melhores pretensões
Que pequenas luzes armadas no cenário...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria o maço sem pedreira?
Um testa-de-ferro do traidor dos aplausos
Um servidor do passado em taça nova,
Um eternizador de deuses do ocaso
Júbilo fervido com panos e lantejoulas...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria do maço sem pedreira?
O que seria, coração, o que seria?
O que seria do maço sem pedreira?





Razón de Vivir
Víctor Heredia




Razão de viver

Para decidir se continuo pondo
Este sangue na terra
Este coração que bate sua pele
Sol e escuridão.


Para continuar caminhando ao sol
Por estes desertos
Para enfatizar que estou vivo
No meio de tantos mortos;

Para decidir
Para continuar
Para enfatizar e considerar
Só me faz falta que estejas aqui
Com teus olhos claros

Ah, fogueira de amor e guia
Razão de viver minha vida

Para aliviar este duro peso
De nossos dias
Esta solidão que levamos todos
Ilhas perdidas

Para descartar esta sensação
De perder tudo
Para analisar por onde seguir
E escolher o modo.

Para aliviar
Para descartar
Para analisar e considerar
Só me faz falta que estejas aqui
Com teus olhos claros

Ah, fogueira de amor e guia
Razão de viver minha vida

Para combinar o belo e a luz
Sem perder distância
Para estar contigo sem perder o anjo
Da nostalgia

Para descobrir que a vida vai
Sem nos pedir nada
E considerar que tudo é belo
E não custa nada

Para combinar
Para estar contigo
Para descobrir e considerar
Só me faz falta que estejas aqui
Com teus olhos claros

Ah, fogueira de amor e guia
Razão de viver minha vida