28 mar 2009

1968

Há quarenta anos, o mundo mudou de ritmo, a música e os artistas dessa época foram testemunhas e atores daquela revolução.

Dizem que a década de 60 foi o Renascimento do século XX e 1968 foi a síntese desta década.

A vida, a história e a arte misturam seus caminhos. Em 5 de janeiro de 1968, em Checoslováquia explodia a Primavera de Praga, Johnny Cash publicava seu direto desde a prisão de Fosom (Califórnia). Há quarenta anos, Estados Unidos enfileirava uma década cheia de mudanças.

Bob Dylan voltava à ação depois do acidente de moto que o afastou dos estúdios e cenários durante dois anos. Voltava com “John Wesley Harding” que incluía a apocalíptica “All Allong the Watchtower” onde anunciava “há muita gente entre nós que pensa que a vida não é mais do que brincadeira. Mas você e eu já passamos por isso e esse não é o nosso destino".

Em abril de 1968, aparece a trilha sonora do musical Hair. Milos Forman fez a adaptação ao cinema anos depois. Hair retrata o movimento hippie e sua luta desarmada contra a Guerra de Vietnam.

Esse ano viu morrer assassinado Martin Luther King quando se preparava para liderar a sua marcha sobre Memphis em sua luta pelos direitos civis. O homem dos sonhos e esperanças deixou parte de sua mensagem no célebre “Se soubesse que o mundo terminaria amanha, eu ainda hoje, plantaria uma árvore”

Nas olimpíadas do méxico, Tommy Smith e John Carlos ergueram os punhos em sinal de protesto contra o racismo explícito dos EUA, e perderam por isso as medalhas que ganharam brilhantemente... mas ganharam a imortalidade.

Em julho de 1968, The Doors publicavam “Waiting for the Sun”, álbum que se converteu em seu primeiro número 1. No mesmo mês em que Pablo VI condenava o uso de anticoncepcionais, The Doors cantavam a erótica “Hello I Love You” e a antibelicista “The Unknow Soldier”, assim como “Five to One”, uma canção sobre rebelião e cujo título se refere a umas estatísticas que diziam que naquela época, um de cada cinco norteamericanos era menor de vinte e cinco anos. Foram aparecendo os trabalhos de Hendrix, o primeiro de Janis Joplin, The Band, Pink Floyd...

Em natal, o astronauta William Anders tomava a primeira foto da Terra. “Foi como nos vermos em um espelho por primeira vez e descobrir que éramos estranhos, belos e perigosamente vulneráveis”

O mundo estava mudando. Na Espanha, Massiel ganhava Eurovisão com a insossa “La, la, la” se olhava de esguelha os jovens do Maio Francês, na Biblioteca Nacional se achava um volume com manuscritos e desenhos de Leonardo da Vinci, e se autorizava as escolas vascaínas a ensinar euskera.

Estréia-se “2001, Odisséia no Espaço” de Kubrick, “O Planeta dos Macacos” e Romeu e Julieta. E assim termina 1968, ao que seguirão outros anos, cheios de história, de música, de grupos, mas poucos podem presumir de semelhante eclosão cultural, de resumir o passado e de marcar o futuro.



1968
Joaquin Sabina

Aquele ano, maio durou doze meses
Você e eu acabávamos de nascer
E um senhor muito sério morria de desgosto
Na primeira página do ABC
Os cravos mordiam os magistrados
Paris era um bairro com acordeão
Marx proibiu seus filhos de chegar tarde
À doce fogueira da insurreição.

A poesia saiu à rua
Reconhecemos nossos rostos
Soubemos que tudo é possível
Em 1968.

Jean Paul Sartre e Dylan cantavam a duo
Brincavam de roda Lenin e Rambo
Os relógios marcavam 40 de febre
Falava-se de sexo na empresa Renault
Dois e dois nunca mais somaram 4
Sofreu mal de amores até Degault
Em meio de Praga cresciam papoulas
Como um desafio vermelho ao cimento cinzento

A poesia saiu à rua
Reconhecemos nossos rostos
Soubemos que tudo é possível
Em 1968.

Mas não pudemos reinventar a história
Mastigava a morte chiclete em Vietnam
No México lindo atiravam a matar
Enquanto o Che cavava seu túmulo na Bolívia
Cantava Maciel em Eurovisão.
E meu pai chegava pontual ao trabalho
Com o colarinho branco e o terno marrom

Se agora encontro aquele amigo
Leio no fundo dos seus olhos
Que já se secaram as flores
De 1968.

Os quadros fizeram greve nos museus
Paris era vermelho, São Francisco azul
Um vagabundo foi escolhido alcaide
E a Sorbona estava em Katmandú
Sobreviva imbecil! É o rock ou a morte
Beba coca-cola, cante esta canção
Que a primavera vai durar muito pouco
Que amanhã é segunda e ontem à noite choveu

Se agora encontro aquele amigo
Leio no fundo dos seus olhos
Que já se secaram as flores
De 1968


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Texto sobre a História de 1968 com a colaboração de Jorgito.

3 comentarios:

  1. Que música maravilhosa! Obrigada por nos presentear com esta postagem. Abraços. =)

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  2. Obrigada pelo comentário Projetista! Fico feliz de que você esteja gostando do blog

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  3. A década de 60 foi o Renascimento do século XX e 1968 foi a síntese desta década

    Jorge Márcio

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