Colecionadores
Autor: T.
T.es un joven brasileño con el arte de la palabra. Ya oiremos hablar de él, con certeza.
Coleccionistas
Cuando me descubrí de niño, me puse en la cabeza que debería hacer lo que todo niño hace para probar su recién descubierta masculinidad: coleccionar algo. Percibí que todos los amigos de mi hermano mayor realmente lo hacían, y en la ansiedad de querer ser hombre, comencé también a coleccionar. Al principio fue fácil, las bolitas no eran caras y venían de a montón. Eran fáciles de guardar, una lata de chocolate en polvo bastaba. Era un buen jugador, sí, pero después que la llevas a la escuela, acaba perdiendo un poco la gracia: todos los niños entran también en el juego y entonces el brillo del asunto es ofuscado por gente que nunca supo lo que es chantar o puntear. Resolví dejar a un lado las bolitas para coleccionar latas de aluminio. Hacía la rapiña en las fiestas familiares y, después de lavadas, disponía todas las latitas en la estante de mi habitación en orden creciente. Las más valiosas eran las de cerveza gringa, y las de gaseosa sólo tenían gracia cuando la etiqueta era conmemorativa. No tardó en que la manía de coleccionar se esparciera entre mis colegas de curso: al transcurrir la semana, todos revelaban sus posesiones. Los más comportados coleccionaban monedas antiguas y estampillas, otros se arriesgaban con entradas de shows y cine. En cambio los de la pesada llevaban frascos con los más diversos insectos muertos. Había uno que coleccionaba champú de hotel: la madre se la pasaba viajando y él pensaba que ganaba con aquellos pocos mililitros de sustancia coloreada.
Un día, andando en bicicleta por la calle, vi a un señor recolectando cartón y aluminio de las bolsas de basura. Él vendía el material recogido para reciclaje, y a cambio se llevaba unas monedas que no alcanzaban para nada… sabe Dios cuantas bocas tenía que alimentar. Eso me rompió el corazón y decidí deshacerme de mi colección para que pudiera ganar un poco más. Aunque lo hice de buena gana, no podía quedarme sin nada para coleccionar, y fue entonces que conocí los álbumes de figuritas autoadhesivas. Funcionaba así: primero comprabas el álbum en el diariero y después, cuando los padres pasaban dinero, comprabas los sobres con una cierta cantidad de figuritas, y cada una tenía un espacio para ser pegada al álbum. La gracia era completarlo antes que los amigos. La fiebre del álbum se apoderó de todos. Abandonamos los otros ítems para ir, todos los domingos tempranito, a la plaza central a cazar las figuritas que faltaban. Los chicos más pudientes simplemente llenaban los vacíos comprándolas a los vendedores y no vivían la verdadera aventura de todo esto. El furor de ver aquella figurita brillante siendo disputada por todos era reservado a nosotros, los chicos de clase media. La forma más honesta de conseguir la hazaña del álbum completo era en base al trueque. Las tuyas repetidas, a veces, era el tesoro del otro. Algunos más corajudos se arriesgaban a la tapadita: apilaban las figuritas deseadas y cada uno de los apostadores tenía que darlas vuelta para llevárselas a la casa. Los deshonestos (o desesperados) solían lamer la palma de la mano para conseguir dar vuelta más fácil al papel. Cuando eran descubiertos, eran denunciados y rechazados – "aquél de allá es lame mano". El entusiasmo resultó tan bien que empezaron a surgir álbumes con todos los temas posibles: mundiales, dibujos animados, películas.
Después, un poquito más allá de la adolescencia, los afortunados que lograban completar algún álbum aún lo guarda como una reliquia. Pero la verdad es que empiezan a valorizar otra cosa por sobre todo: a la mujer. Algunos disfrutan de un relacionamiento serio, enamorarse, sostener la mano, pagar entrada de cine, intercambiar miradas, reír sin motivos. Otros no maduran tan rápido y quieren continuar coleccionando, sin importar qué. Por eso salen de cacería en las fiestas y se enorgullecen del número de mujeres que coleccionan por noche. El hombre, siendo un bicho civilizado, estará siempre a coleccionar algo, sin importar edad y profesión. Cicatrices, amistades, goles. Ilusiones, casamientos, emociones. Momentos, traiciones, conquistas. Cervezas, derrotas, cuentos perdidos.
La Decadencia de la Bolita
Autor: Alejandro Dolina
Alejandro Dolina é um escritor, poeta e músico argentino. Publicou suas primeiras notas nas revistas "Mengano" e "Humor Registrado". Seu livro "Crónicas del Ángel Gris" é uma série de imagens urbanas entre brincalhonas e melancólicas com importantes toques mágicos. Esse livro foi muito bem recebido especialmente por leitores jovens.
Dolina tem um programa de rádio onde relata a história do mundo, toca piano, canta, improvisa versos e dialoga com seus engenhosos colaboradores. Como compositor, sua obra mais importante foi a ópera "Lo que me costó el amor de Laura", de 1988 e que contou com a participação na gravação e posta em cena de personagens emblemáticas como Joan Manuel Serrat, Mercedes Sosa, Sandro, Les Luthiers, Juan Carlos Baglieto, o escritor Ernesto Sábato e o poeta Horacio Ferrer.
A Decadência da bolinha-de-gude
Fica difícil falar sobre o sumiço do jogo de bolinha sem entrar em espinhosas controvérsias.
Claro que se trata de um assunto complexo e pode ser examinado de acordo a critérios muito diferentes.
As pessoas simples afirmam, simplesmente, que se trata de uma decisão de crianças, arbitrária, inexplicável e – por tanto – indigna de ser discutida.
Os psicólogos e antropólogos, eletrotécnicos e até os contadores acostumam chamar a atenção sobre a influência de outros divertimentos de emoção mais sustentável, como a televisão, a sinuca, o gênius ou as palavras cruzadas.
Os Refutadores de Lendas negam que haja existido jamais um jogo semelhante e opõem com argumentos inexpugnáveis o mito da velha infância romântica.
Por outro lado, os Homens Sensíveis asseguram que o desaparecimento do jogo de bolinha-de-gude é o resultado de uma conjura universal.
Este ponto de vista é muito interessante e vale a pena elucidá-lo. Em sua monografia "Faltam Bolinhas", o pensador do bairro de Flores, Manuel Mandeb, levanta uma interrogante que nos deixa perplexos. Vejamos. "... este jogo parece haver começado a declinar em 1960. Mas pode-se afirmar que nesse momento já havia ao menos cinqüenta anos que se jogava. Nessa época havia vinte milhões de habitantes no país, e não era muito audaz afirmar que, em meio século de auge, o jogo da bolinha havia sido praticado por dez milhões de indivíduos em um ou outro momento de sua vida. Agora então: quantas bolinhas possuía cada criança aficionada em média? Digamos umas cinqüenta. Multipliquemos: cinqüenta por dez milhões são quinhentos milhões de bolinhas. Bom, voltemos ao presente: algum de vocês viu uma bolinha neste último ano? Certamente não. E eu pergunto: onde estão as quinhentas milhões de bolinhas? Quem as têm?
E não me digam que o tempo as destruiu porque o vento e a chuva não são suficientes para destruir uma bolinha...
As pistas foram arrasadas e até pavimentadas, os buracos foram recheados, os jogadores foram tentados por outras disciplinas. Alguém está apagando todo vestígio da passagem das bolinhas por esta terra...
Inspirado, talvez no trabalho de Mandeb, este texto pretende firmar as regras, a técnica e a estratégia das bolinhas. A tarefa não é tão fácil como parece. A favor da campanha desenvolvida pelos Refutadores de Lendas e os Amigos do Esquecimento, quase ninguém se lembra das regras. Por outro lado, todos sabem que em cada quadra havia matizes na interpretação de cada norma lúdica.
Não obstante, depois da publicação desta nota, é provável que algum pequeno número de Moleques Sensíveis comece a jogar, nem que seja a modo de desplante perante o Universo.
I - AS BOLINHAS
Trata-se de pequenas esferas, quase sempre de vidro. Seu diâmetro é variável: as menorzinhas se chamam "piolhos" ou "pininas", as médias são as mais freqüentes e estão também as grandes ou "bolões", que se acostuma usar no jogo do Triângulo.
Anos atrás se podiam reconhecer diferentes tipos de bolinhas. As mais belas eram as "leiteiras". Nelas predominava o branco, sempre misturado com alguma outra cor. Eram semi-opacas, não se podia ver a través delas e a variedade de desenhos e combinações era enorme.
Estavam também as semitransparentes, de cores frias, quase sempre verdes ou azuis. Eram com fundos de garrafa. No interior às vezes se adivinhava um filamento gelatinoso e quase repugnante. Salvo exceções, eram uma porcaria de bolinhas. No entanto, a última geração de crianças jogadoras só conheceu estas bolinhas.
As leiteiras desapareceram misteriosamente. Milhares de pessoas jamais viram uma. As mais recentes são as chamadas "bolinhas japonesas" mais leves que as convencionais, e totalmente inúteis para jogar. Seu aspecto é o de uma esfera transparente com um papelzinho colorido no seu interior.
Toda criança possuía uma bolinha favorita, que era a que usava para jogar. Era chamada de "ponteira". O resto das bolinhas servia para pagar dívidas de jogo. Se por acaso uma onda de azar obrigava o menino a entregar a "ponteira", esta nobre bolinha tinha o valor de quatro ou cinco.
Também pode se citar – como curiosidade – as bolinhas de barro, as de aço e até as de plástico (inevitavelmente ovais). A identidade dos fabricantes de bolinhas é um enigma. Nunca houve marcas, nem embalagens, nem publicidade. Algo muito estranho há por trás de tudo isto...
II - O JOGO DO BURACO E A QUEIMA
Podem participar dois ou mais jogadores. O jogo se desenvolve numa quadra de uns 5 metros de longitude por 2 de largura. A superfície deste terreno tem que ser de terra, uniforme e árida, tal como as quadras de bocha, mas não tão mole.
É de bom gosto que uma pequena árvore se localize em um dos lados. Na verdade, os melhores lugares para instalar quadras de bolinhas são os retângulos de terra que existem nas calçadas de Buenos Aires. Na capital, como se sabe, as calçadas chegam até o meio-fio e os espaços sem lajotas que rodeiam as árvores são insuficientes. Por isso os meninos de província sempre foram mais destros neste jogo.
Há quatro linhas que limitam a quadra e uma que divide em dois, chamada "metade". No centro exato de uma dessas duas metades, está o buraco.
E aqui nos encontramos com outro ponto de discussão. Alguns preferem cavar o buraco com uma tampinha de refrigerante. Outros enterram a bolinha e, depois de extraí-la, alargam a cratera que ela deixa. Os mais inescrupulosos cravam a sola do sapato e giram o pé, obtendo desse modo enormes panelas que desvirtuam o caráter do jogo.
Os jogadores se localizam atrás da linha de saída, que é a linha mais curta mais distante do buraco. Um a um vão lançando suas bolinhas, tentando colocá-las no lugar mais próximo ao citado buraco. Isto é de capital importância, pois depois do tiro de saída, o primeiro em jogar será quem se encontre mais próximo ao buraco. Deste modo, se observamos que o jogador anterior conseguiu se aproximar bem demais, o melhor será não tentar superar essa marca e procurar o lugar mais seguro na quadra.
O objetivo do jogo, devemos esclarecer, é acertar no buraco e impactar as bolinhas contrárias ("queima"). Os jogadores "queimados" vão saindo do jogo e pagando a quem os queimou. Quando fica apenas um, termina a rodada e começa outra.
Cada participante vai evoluindo com sua bolinha conforme certa estratégia. Alguns perseguem sua presa e vão se aproximando cada vez mais, ainda com o risco de oferecer um alvo fácil. Outros buscam sempre os lugares mais afastados e fazem tiros longos (quer dizer "rugem"). Se uma bolinha sai pra fora da quadra deve permanecer no lugar onde ficou para que os outros jogadores atirem se assim desejam. Ao corresponder novamente o turno, o jogador poderá efetuar seu tifo desde qualquer ponto da linha atravessada por sua bolinha ao sair.
III - A BOLINHA E A CANTADA
(...)
IV - COMO EMPUNHAR A BOLINHA
Para realizar o tiro deve-se colocar a mão esquerda levantada sobre os dedos no ponto exato onde estava a bolinha. A mão direita descansará sobre a esquerda e empunhará a bolinha. Os canhotos farão exatamente o contrário.
Há duas formas clássicas de pegar na bolinha: a antiga, desprezada muitas vezes, e a moderna. Na primeira a bolinha se coloca atrás do indicador. Na segunda, atrás do dedo médio, servindo o indicador com guia ou mira. Há algo mais. Alguns moleques trapaceiros acostumam estender a mão para a frente aproximando-se à bolinha do adversário. Esta modalidade é conhecida com o nome de "ganfia" ou "ganhote" e é origem de inumeráveis discussões.
Neste ponto convém esclarecer a existência de outros jogos de bolinha: "o triângulo, o galinho, a tróia, a quarta". Passaremos por alto a complicada explicação das suas regras.
O capim já cresceu sobre as quadras. Os moleques já não têm os joelhos sujos. As calças de medidas infantis não têm bolsos. O pavimento e as lajotas cobrem quase tudo. Mandeb talvez tivesse razão. Existe uma conjura universal para impedir o jogo de bolinha. Alguém tem que se ocupar de indagar as razões desse complô e – se for possível – desbaratá-lo.
Há que encontrar os quinhentos milhões de bolinhas perdidas. Há poucos dias, o autor desta nota tentou achar o frasco onde guardava umas poucas dúzias. Não estava. Também não estava a caixa das tampinhas, o álbum de figurinhas nem o pião nem os carrinhos calibrados com massinha.
Algo errado deve estar acontecendo...
qué lindo leer al Negro! Grande Pato!
ResponderEliminarjeje, gracias Nuri. Me encanta Dolina, soy fanática de su forma de escribir. Voy a intentar más adelante dejar otros textos del negro en el cantinho.
ResponderEliminarte tomo la palabra!
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