11 oct 2009

MERCEDES SOSA I

Nestes dias sofremos uma grande perda na música da América Latina. Morreu Mercedes Sosa, uma lutadora do povo, uma voz saída da terra. Pego emprestadas as palavras do músico Fito Paez para falar sobre a Negra...


“O legado de Mercedes Sosa é de vital importância nestas horas da Argentina, uma lição moral plena de luz.
Com sutileza e precisão desenvolveu uma obra que marcará para sempre a história da música popular deste continente.
Seu desejo de liberdade foi exposto em cada recanto do longo caminho que forjou através de muitas décadas em diferentes discos e cenários do mundo. Desde Matus até Violeta Parra, desde Ramírez até Atahualpa Yupanqui, desde Teresa Parodi até Djavan, desde Peteco Carabajal até Spinetta, desde Félix Luna até Charly García, ela inteira foi, é, uma aula do que deveria ser uma nação. Uma mulher integradora de essências, uma perfumista da música na busca, não do aroma perfeito, mas do aroma de cada lugar.
Sanmartiniana, sem preconceitos por natureza, conseguiu o que nenhum dirigente pôde pôr em funcionamento na história desta terra. Escutou todos, vinculou-se com todos, cantou com todos, nos emocionou a todos. Escutar, vincular, cantar, emocionar. Verbos pouco usuais afastados da vida política. Ela como ninguém, nos dá uma idéia do significado de nação que nos carrega de responsabilidade e obriga a pensar na infelicidade de um país que não pode se realizar em plenitude.
No entanto, sua obra sim consegue. A bravura na escolha dos seus repertórios; os riscos artísticos que assume; o rigor na hora do canto e a clareza de sua voz de veludo; a ausência de medos à tecnologia de mercado; sua segurança temerária na hora da gravação; seus olhos fechados quando interpretava e sua boca de ouro à frente de seu belíssimo cabelo preto sob esse nariz de águia, essa é a sua imagem. Senhora e dona do lugar. Rainha da canção.
Será impossível pensar a Argentina sem suas fundamentais versões de Leguizamón y Castilla, Guarany, a tríade modernista de “La Misa Criolla”, Mulheres Argentinas e a “Cantata Sudamericana”, a volta à democracia do 83 com Gieco, Tarragó Ros, Heredia y García, sua permanente curiosidade pelos autores novos (a quem escutava incansavelmente em seu toca-fitas primeiro, depois no walkman e logo no seu iPod), sua admiração pelo Chango Farías Gomez e Chacho Muller, sua falta absoluta de rivalidade com as demais cantoras do bairro, a quem amava, sua vontade de se abstrair de tudo e sua curiosidade inesgotável sobre o que acontecia no resto do mundo... enfim, sem sua loucura abrangedora e que nos contém.
Morreu a senhora Mercedes Sosa. “A Pachamama”¹a chamavam. Era uma grande verdade, porque protegia e fornecia. Mãe terra e divindade.
Seu olhar, sua presença, nos condena ao encontro e este é um imenso desafio nesta, a hora mais difícil de nossa tremenda perda. Parecem palavras grandes, e são, mas maior ainda será construir um lugar tomando-a como exemplo. Tijolo por tijolo e todos os dias com amor se constrói uma casa. Essa é sua herança. Jamais aceitarei que o lugar de seu velório se chame o dos Passos Perdidos. Em todo caso, será o dos “Passos Ganhados”.

¹ Pachamama: da língua aymara e quechua “pacha”: tierra e “mama”: mãe. Quer dizer: Mãe Terra. É a grande divinidade entre os povos indígenas dos Andes Centrais da América do Sul




Como Un Pájaro Libre
A. Gleijer /D. Reches

http://www.divshare.com/download/8855441-748

Feito um pássaro livre

Feito um pássaro livre, de livre vôo,
Feito um pássaro livre, assim te amo.
9 meses te tive crescendo dentro

E ainda continuas crescendo e descobrindo
Descobrindo e aprendendo a ser um homem
Não há nada na vida que não te surpreenda

Como um pássaro livre...


Cada minuto seu eu vivo e morro
Quando não estás, meu filho, como te espero
Pois o medo, uma larva, me rói e me carcome
Nem bem abro um jornal e busco seu nome

Como um pássaro livre

Morro todos os dias, mas te digo
Não há que andar atrás da vida como um mendigo
O mundo está em ti mesmo, deves mudá-lo
Cada vez o caminho é menos longo

Como um pássaro livre





Cuando Tenga La Tierra
D. Toro / A. Petrocelli



Quando eu Tiver a Terra

Quando eu tiver a terra, semearei as palavras
Que meu pai Martin Fierro pôs ao vento.
Quando eu tenha a terra, tê-la-ão os que lutam
Os professores, os machadeiros, os operários.

Quando eu tiver a terra
Eu te juro semente, que a vida
Será um doce cacho e no mar das uvas
Nosso vinho, cantarei, cantarei.

Quando eu tiver a terra, dar-lhe-ei às estrelas
Astronautas de trigais, lua nova,
Quando eu tenha a terra formarei com os grilos
Uma orquestra onde cantem os que pensam.

Quando eu tiver a terra
Eu te juro semente, que a vida
Será um doce cacho e no mar das uvas
Nosso vinho, cantarei, cantarei.


RECITADO:

Camponês, quando eu tiver a terra
Acontecerá no mundo o coração do meu mundo
Desde atrás de todo o esquecimento secarei com minhas lágrimas
Todo o horror da piedade e por fim te verei
Camponês, camponês, camponês, camponês,
Dono de olhar a noite em que nos deitamos para fazer os filhos
Camponês, quando eu tenha a terra
Por-te-ei a lua no bolso e sairei a passear
Com as árvores e o silencia
E os homens e as mulheres comigo

Cantarei, cantarei, cantarei, cantarei.




Entre a mi Pago sin Golpear
Pablo Raúl Trullenque - Carlos Carabajal

http://www.divshare.com/download/8861080-de5

Entrei na minha terra sem bater

Foi muita a minha tristeza
Andando longe da minha terra
Tanto correr
Pra chegar a lugar nenhum
E estava onde nasci
O que eu procurava por aí.

É ouro a amizade
Que não se compra nem vende
Só se da

Quando no peito se sente
Não é algo que há de se usar
Só quando seja útil.

Assim é como se entregam
Na amizade meus conterrâneos
Suas mãos são
Pão, dados, e chimarrão servido
E a flor da humildade
Costuma seu rancho perfumar

A vida me foi emprestada
E tenho que devolvê-la
Quando o criador
Chamar-me para a entrega
Que meus ossos, pele e sal
Fertilizem meu solo natal.

A lua é um torrão
que ilumina com luz emprestada
Só ao cantor
Que cante quadras da alma
Explode-lhe o coração
O sol que sobe por sua voz

Cantor para cantar
Se nada dizem teus versos,
Ai, para que
Vais calar o silêncio
Se o silêncio é um cantor
Cheio de duendes na voz.

Minha gente é um cantor
Que canta a “chacarera”
Não há de cantar
O que por dentro não sinta
Quando o queira escutar
Entre à minha terra sem bater.

A vida me foi emprestada
E tenho que devolvê-la
Quando o criador
Chamar-me para a entrega
Que meus ossos, pele e sal
Fertilizem meu solo natal.




Guitarra Dímelo Tú
Atahualpa Yupanqui


Violão, diga-me você.

Se eu pergunto ao mundo
O mundo há de me enganar
Se eu pergunto ao mundo
O mundo há de me enganar
Cada um acredita que não muda
E que quem muda são os outros.


E passo as madrugadas
Buscando um raio de luz
Porque a noite é tão longa
Violão, diga-me você

Vira pura mentira
O que foi doce verdade
Vira crua mentira
O que foi doce verdade
E até a terra fecunda
Transforma-se em areal

E passo as madrugadas
Buscando um raio de luz
Porque a noite é tão longa
Violão, diga-me você

Os homens são deuses mortos
De um templo já derrubado
Os homens são deuses mortos
De um templo já derrubado
Nem seus sonhos se salvaram
Só uma sombra que vai

E passo as madrugadas
Buscando um raio de luz
Porque a noite é tão longa
Violão, diga-me você





Honrar La Vida
Eladia Blazquez






Honrar a vida

Não! Permanecer e transcorrer
Não é perdurar, não é existir
Nem honrar a vida!
Há tantas maneiras de não ser
Tanta consciência sem saber
Adormecida...
Merecer a vida não é calar e consentir
Tantas injustiças repetidas...
É uma virtude, é dignidade
E é a atitude de identidade
Mais definida!

Isso de durar e transcorrer
Não nos dá direito a presumir
Porque não é o mesmo que viver,
Honrar a vida!

Não! Permanecer e transcorrer
Não sempre quer sugerir
Honrar a vida!
Há tanta pequena vaidade
Em nossa boba humanidade
Cegada.
Merecer a vida é erguer-se vertical
Além do mal, das caídas...
É igual que dar à verdade
E à nossa própria liberdade
As boas-vindas!
Isso de durar e transcorrer
Não dos dá direito a presumir
Porque não é o mesmo que viver,
Honrar a vida!






Numa entrevista concedida à revista “La bicicleta” em 1984, Silvio Rodriguez veio esclarecer tudo ao ser perguntado sobre o significado de “La Maza”:

- “La maza” é um pouco a razão de ser artista, de seu compromisso, que não se deixa seduzir pelos artifícios e superficialidades que costumam acompanhar algumas manifestações cênicas...

- A pedreira é o povo?

- A pedreira é de onde se extraem os cantos, o maço é com que se golpeia. Se não houvesse uma pedreira de onde extrair um produto, algo, para que serviria o maço?

- Quer dizer que extrai seu canto das experiências do povo ou senão, poderia ser que o maço é o que molda o mármore, isto é: que o cantor molda a consciência do povo...

- Não tinha pensado nisso. É ao contrário, aquilo que você disse primeiro.


La Maza
Silvio Rodríguez




O Maço

Se eu não acreditasse na loucura
Da garganta do rouxinol,
Se não acreditasse que no morro
Esconde-se o gorjeio e o pavor...

Se eu não acreditasse na balança,
Na razão do equilíbrio,
Se não acreditasse no delírio

Se não acreditasse na esperança...

Se não acreditasse no que adquiro,
Se não acreditasse no meu caminho,
Se não acreditasse no meu som,
Se não acreditasse no meu silêncio...

O que seria? O que seria do maço sem pedreira?
Uma massa disforme feita de cordas e tendões,
Uma mistura de carne com madeira
Um instrumento sem melhores pretensões
Que pequenas luzes armadas no cenário...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria o maço sem pedreira?
Um testa-de-ferro do traidor dos aplausos
Um servidor do passado em taça nova,
Um eternizador de deuses do ocaso
Júbilo fervido com panos e lantejoulas...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria do maço sem pedreira?

Se eu não acreditasse no mais duro
Se não acreditasse no desejo,
Se não acreditasse no que creio,
Se não acreditasse em algo puro...

Se não acreditasse em cada ferida,
Se não acreditasse no que ronde,
Se não acreditasse no que esconde
Fazer-se irmão da vida...

Se não acreditasse em quem me escuta,
Se não acreditasse no que dói,
Se não acreditasse no que reste,
Se não acreditasse no que luta...

O que seria? O que seria o maço sem pedreira?
Uma massa disforme feita de cordas e tendões,
Uma mistura de carne com madeira
Um instrumento sem melhores pretensões
Que pequenas luzes armadas no cenário...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria o maço sem pedreira?
Um testa-de-ferro do traidor dos aplausos
Um servidor do passado em taça nova,
Um eternizador de deuses do ocaso
Júbilo fervido com panos e lantejoulas...
O que seria, coração, o que seria?
O que seria do maço sem pedreira?
O que seria, coração, o que seria?
O que seria do maço sem pedreira?





Razón de Vivir
Víctor Heredia




Razão de viver

Para decidir se continuo pondo
Este sangue na terra
Este coração que bate sua pele
Sol e escuridão.


Para continuar caminhando ao sol
Por estes desertos
Para enfatizar que estou vivo
No meio de tantos mortos;

Para decidir
Para continuar
Para enfatizar e considerar
Só me faz falta que estejas aqui
Com teus olhos claros

Ah, fogueira de amor e guia
Razão de viver minha vida

Para aliviar este duro peso
De nossos dias
Esta solidão que levamos todos
Ilhas perdidas

Para descartar esta sensação
De perder tudo
Para analisar por onde seguir
E escolher o modo.

Para aliviar
Para descartar
Para analisar e considerar
Só me faz falta que estejas aqui
Com teus olhos claros

Ah, fogueira de amor e guia
Razão de viver minha vida

Para combinar o belo e a luz
Sem perder distância
Para estar contigo sem perder o anjo
Da nostalgia

Para descobrir que a vida vai
Sem nos pedir nada
E considerar que tudo é belo
E não custa nada

Para combinar
Para estar contigo
Para descobrir e considerar
Só me faz falta que estejas aqui
Com teus olhos claros

Ah, fogueira de amor e guia
Razão de viver minha vida




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